Em uma cruzada cheia de desatinos, reviravoltas e encontros extraordinários, um cavaleiro errante enfrenta enigmas, caveiras e uma onça malhada pelas estradas pedregosas do Império Consagrado do Sertão, em busca de uma coroa perdida. Este é o mote do espetáculo para todas as idades Mundo Suassuna, que estreou em abril, em São Paulo.
Inspirado no universo literário do mestre das letras Ariano Suassuna (1927-2014), a montagem, dirigida por Marcelo Romagnoli, faz duas únicas apresentações no Teatro B32, nos dias 09 e 16 de junho, domingos, às 15 horas. A segunda sessão promete ser um evento comemorativo, pois ocorre no dia do aniversário de Ariano, que completaria 97 anos em 16 de junho.
No palco estão os atores Fabio Espósito, Guryva Portela e Henrique Stroeter. A ficha técnica traz ainda o filho do escritor, Manuel Dantas Suassuna (criação de arte e pinturas exclusivas), a cantora e rabequeira Renata Rosa (trilha sonora original e voz em off), Silvana Marcondes (figurinos), Zé Valdir (cenografia) e Rodrigo Bella Dona (iluminação).
Mundo Suassuna é a primeira montagem destinada ao público infanto-juvenil com aprovação da Família Suassuna. O texto, inédito, reúne motivações, imagens e personagens da obra do renomado escritor paraibano. Estão presentes referências e temas fundamentais da criação de Suassuna: o Romance da Pedra do Reino, o impacto do circo, a guiança divina, os aspectos armoriais, as influências ibéricas e, principalmente, as inspirações de seu último romance, o monumental Dom Pantero.
A encenação explora a linguagem circense para trazer o humor, a poesia popular e o imaginário épico de Suassuna para as novas gerações por meio de uma aventura de cavalaria. São doze personagens interpretados pelos três atores que revelam-se em pícaros, trovadores, galhofeiros, figuras do mamulengo e palhaços, com a total liberdade poética para acessar a espetacularidade da fantasia e da magia sertaneja do nosso povo tapuio-ibérico e reverenciar a obra genial de Ariano.
Mundo Suassuna oferece um tabuleiro de histórias no qual a mítica do sertão nordestino é o fio condutor, celebrando a força encantada do Brasil profundo. Montado em seu cavalo Pantero (referência ao Cavalo Marinho, brincadeira nordestina com origens ibéricas), esse príncipe sem rei (um Suassuna órfão de pai, interpretado por Guryva Portela), carrega seu caderno e anota nele a vida, representando o viajante imaginário que precisa reencontrar a cultura popular. Em sua jornada o Cavaleiro atravessa a Cidade e o Sertão, enfrenta a Morte, decifra enigmas e é guiado pela Santa Compadecida. Sua aventura é escrita e documentada e o livro é a sua obra, que será coroada na Festa do Meio-Dia.
Nesse passeio pelo universo de Suassuna, reverenciando seu "castelo" (obra), a encenação é repleta de signos e referências, como as figuras do mamulengo, bonecos e outros elementos da cultura popular, além de desenhos e gravuras que aparecem no cenário e no figurino. A música também vibra na estética da cultura ibérica-nordestina aos sons da rabeca, da viola e das percussões. O texto assemelha-se à literatura de cordel - com seu humor, suas rimas, seus versos dodecassílabos - para trazer o poeta, o palhaço e o profeta que vivem no "herói" Suassuna.
Ariano Suassuna e suas personagens farsescas são fundamentais à compreensão dos tributos fundantes do povo brasileiro, da gente real e do imaginário nacional. Paraibano, é um dos mais importantes escritores brasileiros e dono de uma escrita única. Autor de obras monumentais como Romance d'a Pedra do Reino e Auto da Compadecida, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em 1970, criou e dirigiu o Movimento Armorial, com o objetivo de valorizar os aspectos da cultura do Nordeste brasileiro, como a literatura de cordel, a música, a dança e o teatro, entre outros.